3 horas depois
- Vai demorar muito? – perguntei esparramada no chão.
Antes que Justin me respondesse, chamaram 531. Justin
continuou imóvel e eu comecei a puxar seu braço. Até um garoto de olhos azuis
se virar para mim com cara de interrogação. Por que tinham que vestir a mesma
blusa?
Virei para o outro lado, e vi Justin se curvando de tanto
rir. Corri até ele.
- Não faça nenhum comentário. – disse e ele riu mais.
- QUINHENTOS E TRINTA E UM! – gritou a gordinha, nervosa. Só
não mando ela ir pescar porque eu acho que pescar deve dar ainda mais raiva. E
porque os lagos de Stratford estão congelados.
- Somos o 531. – Justin disse para a gordinha.
- Estão atrasados ou surdos? – ela perguntou.
- Estamos com pressa. Dá para dizer onde é o lugar das
audições? Que aliás, acho que é esse o seu trabalho. – disse e Justin reprimiu
um sorriso. A gordinha revirou os olhos e depois a seguimos nos corredores
largos do teatro.
Assim que chegamos na porta do lugar das audições, uma
garota morena nos orientou para não deixar o lugar que estava demarcado no
chão, e que se isso acontecesse iriam chamar a segurança. Só uma palavra sobre
isso:
FRESCURITE.
Ela também nos entregou dois microfones e falou que assim
que nos chamassem poderíamos entrar. Eu colei o ouvido na porta até a tiazinha
falar que era para eu parar de fazer isso. Mas eu só queria saber se a minha
vez estava chegando.
- Justin – o chamei – Eu acho que eu vou morrer. – disse
meio engasgada. – Meu coração ta batendo muito rápido.
- Isso só é nervosismo. – ele disse.
Respirei fundo (com fôlego é mais fácil gritar) e soltei:
- NERVOSISMO?! – berrei – VOCÊ VAI VER QUEM ESTÁ NERVOSA!
Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, e acredite, eu sei
lutar (anos de prática com a minha irmã), a tiazinha tampou minha boca e me
passou um sermão. Se eu continuasse gritando e etc, eu ia ter que me retirar
junto com Justin e a chance dele ia para o beleléu.
De modo que eu disse para a garota que ia me controlar e até
pedi desculpas. Para redimir minha situação eu falei (na orelha dela, claro)
que estava de TPM. O que é uma mentira, mas ela até sorriu para mim e disse que
sabia como era. Essa é a mentira mais perfeita que existe.
Justin estava inquieto e quase caiu para frente quando a
garota abriu a porta chorando e falando uma língua alienígena (sério, não
entendo porque as pessoas cismam em chorar e falar ao mesmo tempo), e o
empurrou. Eu estava paralisada vendo a menina-alienígena até que a voz
gritando...
- PRÓXIMO!
É agora que eu vou morrer. Ou vomitar. Ou morrer vomitando.
Alguém me arruma um caixão? Ou um balde? Ou os dois?
Peguei o microfone e olhei para Justin que disse sem emitir
som: Count on me.
Eu não sabia se era porque eu podia contar com ele (mas eu
sabia que sim) ou para me lembrar a música que iríamos cantar. Acho que um
pouco dos dois.
Entramos no teatro, subimos no palquinho e olhamos para os
três jurados. Ficamos no círculo demarcado exatamente como pediram e esperamos
que alguém dissesse algo.
Um cara alto, de cabelo loiro na altura dos ombros pigarreou
e leu o papel amarelo.
- Elizabeth Ma...
- Lizzie. – tudo bem, odeio meu nome e juro que isso foi
automático.
- O quê? – o cara perguntou.
- Me chame de Lizzie. – disse bem alto, o homem olhou para
mim e mandou um daqueles sorrisos irônicos. Aqueles que eu gosto tanto que dá
vontade de arrancar todos os dentes e leva-los para mim.
- Eizabeth Mayflower e Justin Bieber, ou você quer que eu te
chame de Juju? – ele perguntou para Justin que sorriu educadamente (sabia que
era só por educação) e ele prosseguiu.
- Então Elizabeth... – falou e eu tomei fôlego para falar
mais alto que era Lizzie, mas a jurada que estava sentada no meio, olhou para o
cara que estava teimando em me chamar de Elizabeth e depois para mim. Eu olhei
para ela cheia de esperança, juro que pensei que ela ia falar para ele parar de
me chamar pelo meu nome, mas ela olhou para mim e disse:
- Querida, use o microfone.
Eu corei e só aí percebi que não estava usando mesmo. A jurada que eu pensei ser a boazinha (sempre
tem uma boazinha!) revirou os olhos e fez umas anotações.
O terceiro jurado era negro e careca. Eu olhei para ele e
antes que minha mente pudesse raciocinar, gritei no microfone:
- Eu conheço você! Você é o cara que cozinha! Minha mãe é a
maior fã sua!
Ele sorriu e pediu para que cantássemos.
Mas bem nessa hora, colocaram uma merda de holofote na minha
cara. Eu não conseguia enxergar. E a batida começou.
Sabe eu sendo uma mulher, e tudo o mais, deveria ter aquele
superpoder de se concentrar em duas coisas ao mesmo tempo. Mas eu não
conseguiria abrir os olhos e cantar a música.
CARAMBA.
ESQUECIA A LETRA DA MÚSICA.
Assim que ouvi as batidas, e tudo o mais, meu
sangue congelou. Eu não queria arruinar a chance de Justin, de modo que quando
ele começou a cantar a primeira parte da música."If you ever find yourself stuck in the middle of the sea
I'll sail the world to find you
If you ever find yourself lost in the dark and you
can't see
I'll be the light to guide you"
Já estava na minha deixa e a única coisa que eu pensava era:
PUTA QUE O PARIU, O QUE EU FAÇO?!
Aí, do nada, ou por instinto, me joguei no chão. Não me
joguei tipo pedindo um abraço ou um beijo para o chão, mas do jeito que finjo
que desmaio. Acho que foi convincente, porque as luzes foram apagadas...
Se bem que nesse momento eu poderia estar morta. Porque
sabe, eu não sei fingir um desmaio tão bem assim, de modo que eu bati a cabeça
com tudo no chão. E minha visão estava escura. Mas eu estava de olhos fechados,
então...
Não. Eu ainda estava viva, porque eu estava ouvindo as vozes
dos meus jurados.
- Ela desmaiou! – a jurada disse meio que desesperada. Logo
ouvi os passos do salto batendo no chão.
Justin provavelmente estava ajoelhado do meu lado, e passava
a mão no meu rosto. Fazia cócegas, e eu estava com vontade de rir. E aonde
Justin arrumou aquelas mãos tão macias? Será que ele está usando os hidratantes
da mãe dele?
- Acho que devemos dar uns tapas para ver se ela acorda. –
sugeriu a mulher.
- Sabe, Ann, ela não está dormindo. Acho que deveríamos dar
uns tapas em você. – o jurado que cismava em me chamar de Elizabeth disse. O
cheff de cozinha que minha mãe adorava, disse:
- Tudo bem, mas o que faremos? – ele perguntou. O único
sensato daquela sala.
- já sei! – a jurada disse – Que tal jogarmos água nela?
E a cada segundo eu gosto menos dela.
- Ela não está dormindo. – disseram os dois jurados em coro.
- Eu – dizia o chefe de cozinha – já liguei para a
ambulância, eles já estão vindo.
Tudo bem, eu teria que “acordar” antes, mas como eu faria
isso? Eu nunca nem desmaiei de verdade.
- Ahn – Justin disse e se eu o conheço ele estava coçando a
cabeça – Poderíamos tentar respiração boca a boca.
- Isso! – disse o senhor-implicância-com-meu-nome – Alguém
aí sabe?
Silêncio mortal. Justin pigarreou.
- Eu sei.
E quando Justin estava se aproximando, eu até cheguei a
sentir a sua respiração bater contra meu rosto, eu levantei da maneira mais
babaca possível:
- Oi. O que está acontecendo? – disse fingindo estar
confusa.
- Você desmaiou. – a jurada disse. Fiz uma cara de surpresa.
– Está tudo bem?
- Está. - sorri sem mostrar os dentes. O único lucro que
tive foi que a letra veio na minha cabeça, nesse meio tempo.
- Eu já liguei para a ambulância, acho que é melhor vocês
esperarem lá fora. – ele disse.
- NÃO! – falei meio desesperada, mas é claro que eu não
estava “meio” desesperada, porque eu estava COMPLETAMENTE desesperada – Eu
consigo fazer o teste. – disse.
- Não é melhor... – o cheff foi bruscamente interrompido
pelo senhor implicância.
- Deixe.
- Obrigada, é nosso sonho. – sorri. Não era NOSSO sonho, era
do Justin, mas soaria muito egoísta se eu dissesse isso. E pareceria que ele me
arrastou para cá, mas mesmo isso sendo verdade, não quero que o público saiba.
Porque Justin – mesmo que seja estranho admitir - é bonito (as garotas vão
votar nele só pelo corpo), e tem simpatia. Enquanto eu pareço uma lesma
andando. Ou me arrastando. Lesmas andam ou se arrastam?
Dessa vez fechei os olhos por conta da luz dos holofotes e
Justin começou. Eu meio que sem querer deixei meu corpo balançar só um
pouquinho por causa da música, o que não sei se ficou bom, mas me relaxou.
Então eu cantei. Cantei mesmo, fingindo que o microfone que eu estava segurando
era meu desodorante e que eu estava no banho. Como eu sempre cantei.
Terminamos e eu abri os olhos. Minhas pernas agora tremiam.